Neste 133 anos de Lei Áurea, importa lembrarmos a contribuição intelectual de Lélia Gonzalez em seu diálogo com a psicanálise lacaniana. ‘Memória é tudo aquilo que a Consciência da gente não pode apagar.’
Então, aqui, fora da matripotência de Afrika estamos deslocados da raíz familiar e vivemos sob a condução identitária duma neurótica e adolescente sociedade brasileira que tenta a todo custo apagar a consciência negra.
Nós comemoramos o 20 de novembro e com maus olhos censuramos quaisquer festejos em 13 de maio. Nós guardamos a memória de Zumbi dos Palmares, o Nosso Pai. Ainda que a identidade nacional seja em virtude dos sucessivos estupros coloniais, foram as Mães pretas que, audaciosamente, transmitiram uma intelectualidade africana para os filhos dos brancos, ensinando-lhes o “pretuguês,” pois a estrutura linguística do colonizador português até hoje admira a bunda da preta mas se esquece do kimbundu, cuja raiz linguística também é africana.
As Mães Pretas, são, as mães de verdade. Se as mulheres brancas não martenaram seus próprios filhos, a Princesa Isabel não pode reivindicar o status de Mãe dos Escravizados!! Quem dirá ser celebrada como uma senhora bondosa responsável pela nossa libertação. Aliás, parcelas de nós nunca se deixaram derrotar filosoficamente. Na Quilombagem os ancestrais criaram o primeiro Estado livre das Américas, qual seja o Quilombo de Palmares. Lá, não tinha exploração de classe, nem subordinação de gênero e nem opressão de raça.
Segundo aponta Lélia Gonzalez, o Sinhô patriarca branco recebeu belo de um corno. Subestimou as mães pretas enquanto para nós a Princesa Isabel sempre será a Outra.
Valeu! Saúdo Acotirene, Dandara, Luiza Mahin, Aqualtune e toda marca de descolonização em mim, em você e naqueles que ainda virão.
*Carla Akotirene é Mestra e doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – UFBA, faz parte de elenco de palestrantes da Casé Fala. Para contratar palestra ou ações comerciais com Carla, só enviar e-mal para contato@casefala.com.br.