A diversidade é o combustível para inovação
Empreendedorismo, diversidade e inovação são palavras que normalmente não são vistas na mesma frase. Porém, nos últimos anos uma tendência parece ser irreversível: o aumento de negócios com foco em diversidade tornaram-se uma realidade. Essa tendência global ainda está fora de radar de grandes empresas, agentes públicos e profissionais brasileiros. Seja por desconhecimento, falta de visão estratégica ou por puro preconceito.
Escrevi o livro “Oportunidades Invisíveis” justamente para mostrar o poder dessas oportunidades muitas vezes ignoradas por conta do racismo, machismo e demais formas de opressões que estão do nosso lado. A população negra, por exemplo, movimenta por ano 1,7 trilhão de reais, segundo dados do Instituto Locomotiva, porém ainda é discriminada e ignorada pela publicidade e no mundo corporativo.
Reuni nessa obra, insights de 15 anos de trabalho com o empreendedorismo social para mostrar que há muita gente vendo além, criando novos negócios com temas que muitas pessoas ignoram. Eu conto no livro muitas dessas histórias incríveis. Por exemplo, você sabia que temos no Brasil temos uma rádio online que lança artistas indígenas no mercado da música, uma plataforma digital de turismo focada no mercado afro e outra voltada para o público LGBTI+. Que há um aplicativo de transporte com milhões de downloads dedicado apenas para mulheres que é o maior do mundo no segmento? Sim, há muitas inovações quase desconhecidas pelo grande público, mas que tem gerado e renda para muitas pessoas.
A inovação, aliada à diversidade, está representando um novo e próspero mercado para quem vê além do senso comum. Compreender o poder dessas oportunidades é fundamental. No livro eu respondo perguntas como: o que faz esses empreendedores enxergar abundância onde todos veem escassez? Como eles conseguem ser mais inovadores que as empresas tradicionais? Quais lições podemos aprender com eles para nossos projetos? Busco em minhas pesquisas estudar como em países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Quênia, Etiópia e África do Sul a diversidade gera novas oportunidades.
Com tanta desigualdade ainda estamos entre as dez maiores economias do mundo. Imagine se realmente criássemos um ambiente favorável aos empreendimentos e inovações que surgem nas periferias? Certamente o Brasil seria muito mais competitivo na economia global. Nasci em uma periferia e sei muito bem do potencial desses territórios. O mundo se parece muito mais com as periferias do Brasil, do que com o Vale do Silício. Portanto, temos muito para contribuir. O Brasil ainda está muito distante de um entendimento de que o investimento na diversidade, além de ser socialmente justo é o combustível da inovação. Precisamos agir rápido para criar um país mais justo, próspero, diverso e sustentável.
Paulo Rogério Nunes
Publicitário, empreendedor e consultor em diversidade. É da rede alumni do Berkman Klein Center da Universidade Harvard e foi fellow da Fulbright na Universidade de Maryland. Também é sócio da Afar Ventures, uma empresa, como sede nos Estados Unidos, de atração de investimentos para o Brasil. Atua também como palestrante e consultor na Casé Fala criando estratégias para várias empresas. Foi escolhido como um dos afrodescedentes mais influentes do mundo, em 2018, pela organização Most Influential People of Africa Descent (MIPAD). É professor do curso de Comunicação Social da Universidade Católica do Salvador e já prestou consultoria para várias organizações internacionais. Foi escolhido para um encontro privado com o ex-presidente Barack Obama no Brasil e foi o único brasileiro convidado para palestrar no primeiro evento internacional da Fundação Obama, em Chicago. Paulo Rogério é também
cofundador da Vale do Dendê, que acelera e investe em startups da área criativa e digital em Salvador, Bahia.