Maha Mamo tem uma trajetória marcada por muita determinação, luta e conquistas

“Eu só queria existir”, essa é uma frase marcante de Maha Mamo, a sua história chamou atenção do mundo e, em especial da atriz Cate Blanchet, em um encontro em um evento da agência da ONU para refugiado ACNUR. Maha viveu quase 30 anos sem nenhum documento, na condição de apátrida, ou seja, sem patrícia. Só em outubro, de 2018, ela recebeu a cidadania brasileira em uma cerimônia da ONU em Genebra. Estima-se que atualmente existe mais de 10 milhões de apátridas, por isso Maha dedica parte do seu tempo a essa causa, fazendo palestra no mundo inteiro para colocar luz na causa dos apátridas e refugiados no mundo.

Maha Mamo atua como palestrante motivacional e também fala de causa humanitárias, nesta conversa, ela falou sobre os desafios humanitários diante da pandemia do COVID19, “é um momento de incertezas mas acredito que com coragem e determinação passaremos por essa experiência mais fortalecidos.  Esse é o momento para reforçarmos ainda mais a nossa humanidade a partir da constatação de que não somos números, somos todos seres humanos, com desejos e sonhos”. Confira a entrevista.

Como enxerga a questão dos refugiados neste momento de COVID19?

Neste momento de incertezas, eu vejo a questão dos refugiados como um problema grave e catastrófico. Sabemos que agora a prioridade das nações é salvar vidas de sua população e conter uma pandemia que atinge a todos. Não é, necessariamente, abrir as fronteiras para acolhimentos de refugiados. Além disso, estamos assistindo a grandes colapsos em países desenvolvidos e preparados para lidar com os mais variados tipos de intempéries e crises, podemos imaginar como será o impacto que uma situação como essas trará para a população mais vulnerável do mundo. Estamos falando de homens, mulheres e crianças que não possuem acesso a itens de necessidade básica: comida, água e itens de higiene pessoal.  Em muitos locais, a realidade dos refugiados hoje é uma vida confinada em menos de 3 metros de espaço e uma torneira compartilhada para 200 pessoas.  Essa realidade, vivida todos os dias por essas pessoas, torna o mínimo de cuidado e isolamento social impossível.

Felizmente, chegam até nós algumas boas notícias de solidariedade e compaixão de um outro cenário de refugiados que conseguiram ser acolhidos e se estabeleceram em países com mais estrutura. Essas pessoas conseguiram se reinventar para ajudar o próximo, através da distribuição de comida e confecção de máscaras. Nesses locais, através de uma rede de apoio construída, a solidariedade deu lugar ao cenário de tristeza.

No entanto o cenário não é unívoco: a maior parte dos refugiados vivem em países em desenvolvimento e estão em campos superlotados e com sistemas sanitários e de saúde precários. Além desse cenário há também os refugiados que fugiram da guerra e dos conflitos e acabaram perdendo a batalha contra o COVID-19 em um país onde não fala a língua, longe da família e longe da casa. É importante lembrar que o motivo da fuga foi a preservação da vida, o que demonstra a necessidade e urgência do acolhimento. A questão, para muitos, é de vida ou morte.

Como podemos exercitar a resiliência neste momento?

Quem me conhece e já me ouviu falar sobre a minha história de vida sabe que, por 30 anos, minha vida foi viver sem direto a ir e vir, sem acesso a hospitais, nem educação e nem trabalho. Os desafios e limitações que tive em 30 anos de vida como apátrida se parecem muito com os problemas impostos pela pandemia na vida de cada um.  Por 30 anos da minha vida vivi como apátrida, sem nacionalidade, sem ser cidadã de lugar nenhum, sem direito a pertencer. Isso significa que, mesmo nascido em território, o apátrida, seja por questões políticas, religiosas ou sociais não tem direto a nenhum documento que reconheça a sua existência, ou seja, como cidadão, ele não existe. Minha vida “nas sombras” foi cheia de emoções, conquistas, falhas, sucessos, perdas, e tristeza. Lutei por décadas, passei por muitos processos de adaptações, mudanças, períodos de incerteza. Busquei informações, com muita determinação e resiliência, venci a minha batalha que durou 30 anos, até o momento que finalmente pertenci a uma nação e consegui minha nacionalidade, brasileira. Realizei meu sonho mas essa história não se deu de maneira fácil. A vida não anda sempre do jeito que planejamos, mas com as escolhas que fazemos.  Uma grande lição que aprendi e que me guia todos os dias é que: você precisa dar o seu melhor, seja já qual for a sua posição. Quando eu distribuía panfletos nas ruas de Belo Horizonte, eu era grata e feliz por ganhar meu dinheiro honestamente. Hoje, como palestrante, dou o melhor de mim. Eu gosto sempre de contar que em uma entrevista para o Fantástico, em um quadro organizado para falar sobre Direitos Humanos, a jornalista Sônia Bridi me perguntou como estava ganhando a vida e eu sorri.  Dias depois ela me levou até a agência Casé Fala, que hoje me representa, e hoje eu consigo levar a minha história para empresas. Inspirando pessoas através da minha história, viajei mais de 20 países, como voluntária da ONU, participando da capacitação de pessoas e governos para lidar com a questão da apatridia. Tive a oportunidade de falar, no Brasil, com diversas empresas como: DOW Química, HSMAI, Sebrae, Google, Banco Itaú, Kantar e Grey…  Nos Estados Unidos, palestrei para um grupo de executivos da Unilever e ganhei o prêmio Humanitário Especial no FOCUS BRAZIL Arizona, que foi entregue pela Cônsul Geral do Brasil em Los Angeles. Recentemente, já no contexto do COVID-19, fiz uma palestra no Facebook, em São Francisco, que foi transmitida online para 7 mil funcionários no mundo.

Hoje, como palestrante motivacional, tendo a voz e a oportunidade que estou tendo, compartilho a história da minha vida para ser um exemplo vivo de que a esperança sempre existe; de que é preciso sempre sonhar e acreditar que “isso vai passar”.

Eu sei que hoje a minha história, com todos os seus momentos bons e ruins, tem a capacidade de inspirar pessoas a atingir o seu potencial e realizar sonhos. Para isso aprendi que é preciso se adaptar às mudanças. No meu caso, não tive muitas escolhas na vida, não escolhi nascer apátrida, não escolhi meus pais, mas, uma coisa que eu escolhi e que todos podem escolher é: desistir, JAMAIS!

A pandemia derrubou as fronteiras do mundo. Você concorda?

A pandemia mostrou que apesar dos limites e fronteiras físicas terem se fechado, o ser humano é incrivelmente adaptável e com ajuda da tecnologia quebra todas as barreiras para se aproximar uns dos outros, seja para trabalhar, abraçar seus familiares ou conversar com seus amigos.  Os processos de transformação da sociedade foram acelerados com a diluição das fronteiras virtuais e a transformação de Mindset. Para que o processo da transformação não seja tão doloroso e para nos ajudar a colocar os pés no chão e encher o coração de esperança precisamos ouvir mais histórias de resiliência, esperança e inspiração.

Nesse sentido, o lado bom que a pandemia trouxe foi a possibilidade de uso dessas novas formas de conexão a nosso favor possibilitando um alcance maior do que o formato presencial poderia alcançar.  Nesse sentido, estruturo as minhas palestras, também, nesse novo formato virtual, onde é possível, a partir diálogos abertos, uma experiência de troca que vá na direção da construção de caminhos possíveis para questões diversas.

 

Para palestra com Maha Mamo, envie e-mail para contato@casefala.com.br

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *